O relacionamento é semelhante a uma construção; a construção de uma casa. Nela
existe um conjunto de elementos que sustentam e dão estabilidade à obra, começando com cuidado em escolher o terreno, aplainar as partes irregulares, retirar os detritos, fazer o planejamento arquitetônico, respeitando os processos, até a casa funcional estar pronta.
Construir a vida ao lado de alguém é uma escolha que exige conhecimento, cuidado,
investimento emocional e respeito com o tempo dos processos. Para iniciar uma construção com alguém necessita de um planejamento das duas partes, e em alguns momentos um replanejamento, porque o casal é constituído de um funcionamento dinâmico e construído continuamente.
A fundação é uma das partes mais importantes da construção, ela é destinada a
receber o peso da obra, garantindo a estabilidade. É a base de uma casa estruturada,
composta de pilar, viga e a laje. Tendo essa imagem em mente, voltemos a pensar na
relação: cada parceiro tem sua individualidade, e eles são a base para a formação da
intersecção, o “nós”, quando se unem dão formas a outras ”substâncias” novas, como o
concreto que é a junção de areia, cimento e água, e esses elementos formarão algo único que fortalece, dá liga e resistência na estrutura familiar.
A relação amorosa necessita de comprometimento e responsabilidade com o outro,
trazendo segurança, equilíbrio e estabilidade a cada etapa concluída, unindo o
desenvolvimento individual com a construção do novo espaço conjugal, o “NÓS”. Uma
relação não sobrevive apenas com uma singularidade, mas sim quando os dois elementos dão forma a uma nova e unificada substância como a argamassa ou concreto, que com o tempo vão ocupando seu papel e suas funções específicas dentro de uma família.
Salvador Minuchin configura a relação familiar a partir da relação conjugal: o casal, ao se constituir, precisa separar-se de suas relações anteriores, principalmente com os respectivos pais, e o casamento é o primeiro momento em que os participantes irão confirmar ou não suas novas identidades e construir algo novo juntos.
Cada parte precisa trabalhar arduamente para o funcionamento da relação como um casal, pois uma relação não se dá naturalmente, necessita da intencionalidade que significa prestar atenção e fazer as coisas com propósito, não de forma passiva, ou reativa, não apenas “porque é nossa obrigação”, mas fazer algo com a intenção de obter o máximo possível. Ou seja, são importantes os esforços de ambas as partes nesta construção para seguirem seus propósitos de vida juntos.
É tão verdade que uma casa quando não é bem cuidada, ela pode ruir com o tempo e ter sérias complicações, pois uma casa precisará de restaurações e manutenções ao longo do tempo, o que é bem real dentro de uma relação, as manutenções, estaurações e planejamentos das rotas fazem parte do processo de resgate que amplia o tempo, estabilidade e a profundidade nas relações.
Se relacionar com intencionalidade, vai muito além do amor romântico e recheado
de paixão. O romance e a paixão fazem parte, embora esses elementos estejam mais
presentes na fase inicial do casal enamorado, para dar o impulso em iniciar a construção, eles também podem ser acessados e renovados em todas as fases da vida do casal, como elementos de manutenção e resgate através da restauração.
Importante lembrar que nessa nova construção de relacionamento, cada indivíduo
entra acompanhado por suas bagagens e sistemas de crenças. É no dia a dia que o casal
vai construindo os acordos necessários para aproximar esses dois mundos, aceitando as diferenças e fixando objetivos em comum. Ou seja, aqueles casais conscientes
reconhecerão e decidirão juntos quais componentes levarão para a obra que estão
construindo na área de intersecção deles. Pois se a relação é uma contínua construção, ela ainda não está pronta, e a cada mudança e transição de ciclos vitais, serão necessários reajustes e manutenções dentro da dinâmica com casais.
Ser um casal também significa ser namorados em todas as fases da relação.
Continuamos sendo namorados quando nos casamos, quando nos tornamos pais e avós, são esses mesmos namorados que permanecem presentes nas próximas formações familiares. Para esse casal funcionar de maneira saudável é necessário o esforço em permanecer unidos e se auxiliando na execução dos papéis que vão surgindo em cada etapa da vida.
Portanto, como é bom, depois de uma construção bem feita, estabelecida, poder
desfrutar, descansar, ter prazer, contemplar o quão belo, seguro, organizado, com
iluminação aconchegante, boa decoração e estável é o nosso lar. Pode não ser fácil
construir, trilhar, esse caminho; mas de mãos unidas, com bastante diálogo, podemos agora desfrutar de uma relação, como também promover esse espaço de acolhimento,
relaxamento e alegria a todos que chegam perto. O casal sente algo fortalecedor com
sensação de êxito na parceria a dois, e desfrutar de cada etapa da construção proporciona a visualização com os possíveis resultados e sentimentos que elas nos proporcionam.
Boa construção para cada um de vocês!
Grata,
Lidiane Barreto
-Terapeuta Sistêmica Especialista em Casal e Família
-Membro da Gestão APETEF 2020-2022 e Associada APETEF.
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