O vínculo que mantém o casal: como a relação conjugal transforma individualidades e sustenta o casamento
- apetef

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Como o vínculo conjugal transforma as individualidades e ajuda casais brasileiros a permanecerem juntos, mesmo em meio a conflitos, desafios sociais e mudanças culturais

A pesquisa analisa a relação conjugal como uma terceira realidade, um vínculo relacional que nasce do encontro de duas individualidades e não da fusão delas, construída por meio de negociações, flexibilização e ressignificação ao longo do tempo. Com base em entrevistas e grupo focal com quatro casais brasileiros em união há mais de 15 anos, o estudo mostra que o modelo de família nuclear e o ideal de amor romântico ainda organizam o imaginário e os projetos de vida desses casais. Esse ideal inclui compromisso, companheirismo, cuidado cotidiano, fidelidade, projeto em comum e forte centralidade dos filhos como razão para manter o vínculo.
Os resultados indicam que a relação conjugal é complexa, instável e intersubjetiva, marcada por tensões entre o desejo de ser feliz individualmente e o esforço de construir uma vida a dois em um contexto socioeconômico muitas vezes adverso. Conflitos relativos a dinheiro, divisão de tarefas, educação dos filhos, histórico familiar, uso de álcool e expectativas diferentes são constantes, mas não se mostraram, por si só, motivos suficientes para a separação. A permanência na relação está ligada à capacidade de diálogo, perdão, ajustes recíprocos, redefinição de expectativas e ao sentido de pertencimento ao vínculo conjugal, entendido como uma “cola” afetiva que une o casal e o distingue de outros relacionamentos.
O estudo mostra ainda que o ideal de “casar para sempre” é reinterpretado ao longo do ciclo de vida, deixando de ser fantasia para se tornar um projeto em permanente reconstrução, que exige investimento contínuo em comunicação, aceitação de diferenças e reorganização de papéis. A relação conjugal, nesse processo, transforma as identidades individuais dos cônjuges e é, ao mesmo tempo, transformada por elas, configurando-se como uma “dança” entre estabilidade e mudança, proximidade e necessidade de espaço próprio. Os autores concluem que permanecer casados envolve tanto fatores internos (amor, compromisso, cuidado) quanto externos (condições materiais, redes de apoio, herança familiar de crenças sobre casamento), que juntos sustentam ou fragilizam o vínculo conjugal.




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